Dialeto “Ribamourês”.

Falar à moda
de Riba de Mouro

Falar à moda de Riba de Mouro, um dialeto galaico-português

Riba de Mouro tem a ancestralidade explícita na génese do seu nome. E a palavra riba está, até hoje, bem preservada no quotidiano linguajar ribamourês, fértil em termos e expressões que, acompanhados da sua tão peculiar sonoridade, o tornam singular.

A maneira como se fala lá por riba é única, de valor inestimável. Dada a sua riqueza patrimonial, rompe com qualquer tipo de vergonha ou chacota. Não só preserva, como também, promove a tradição oral de Portugal.

A beleza deste dialeto estende-se aos mais pequenos que, quando distraídos, deixam-se levar no ribamourês, por ouvirem os avós e os pais a falar em casa. São as raízes a falar mais alto, o receio da vergonha de outrora a revelar-se e afirmar-se com orgulho.

Recordamos duas tradições, outrora enraizadas na cultura de Riba de Mouro. A reza do pão, que era feita sobre a massa ainda na masseira, para que levedasse mais depressa (mas não azedasse!), antes de ir a cozer ao forno; e o cebar dos porcos, cuja matança, geralmente, se fazia nos meses frios. Além do frio, um conservante natural, a carne do porco era guardada em salgadeiras (ou seca) e consumida durante os meses de Inverno.

Reza ao pão

A farinha milha, a mastura, o fermento da fornada anterior, uma suadela para amassar, três horas para levedar, o forno (de pedra) bem aquecido e tapado com bosta, duas horas a cozer e parece estar lançado o segredo para “uha boua fornada de pon”. Mas não chega!

Logo, depois de amassar, prepara-se a massa para levedar. Quando estiver devidamente amanhada, faz-se-lhe uma cruz com a mão, enquanto se reza:

“Xan Mamêde te lebêde, Xan Bicente t’acrecente, Xan Joan te faça pão, Deus noxo Xinhor te ajude, que eu já te fiz tudo que pude. Por a graça de Deus e da Birge Maria, um Padre Noxo e uha Abe Maria.”

Agora sim, está garantido.

Mesmo que o processo tenha sofrido alterações, ao longo dos tempos, em algumas das poucas casas onde ainda se faz broa cá por Riba, a reza não pode faltar.

Ben aí os máscaros!!!

– Ó meu pai, faça-me uha careta.

– Porra, rapaz, ele lembra-te cada couja…a careta já ta fiji cando naceste. Nun te xerbe a que têns?

– Ai, boçê esta xempre na pândiga. Eu qria uha careta pra ir c’os máscaros no entruido.

– E tu de que bas?

– Bou de mocinho das alianças nuha boda. O fato lebo o da promeira cominhôn, xe minha mai deixar. Glória ê a noiba e leba um bestido da irmán.

– Ná, a couja bai!…E quen ê o noibo?

– O noibo ê Mêrco e leba um fato do pai. Cum fungagatos e tudo.

– E tu cme raio quêres que te faça a careta?

– Faça-ma de papelôn, mais ponha-le um buraco grande na boca, xe nôn abafo.

– Ai canalha q’habedes de ficar feios cm’ós trabôns. Quen bos atura ganha o céu.

Descubra e aprenda mais sobre o dialeto “Ribamourês” com o livro “OS DE LÁ DE RIBA - Os Saberes e o Linguajar de um Povo” (2021), de Aida Barreiros & Maria Alves. Uma mostra exata daquilo que, no fundo, distingue quem é de lá de Riba. Um autêntico compêndio de palavras, expressões, estórias ou curiosidades deste território.