A vida dos Brandeiros facilmente se confunde com a Branda de Vale de Poldros. São muitos aqueles que contam as suas histórias, sempre com o olhar e a voz carregada de saudade.
“O dia dos brandeiros começaba mi cedo, por bolta das 4h00 ou 4h30, pra xe botar as bacas pró monte… e ali andaban encanto o xôl nun quentaxe muito. Depois, picaba-le a mosca e binhan prá corte. À tardinha, tornaban-se xoltar prás tapadas de cada um e por ali ficaban entê o xôl se pôr”, recorda Lola, a última brandeira de Vale de Poldros. A essa hora, já não iam para o monte porque, no caso de se perderem, seria preciso muita coragem para as ir procurar, durante a noite.
Mas a vida de brandeiro não era apenas cuidar do gado. Tirando as horas de muito calor, em que se aproveitava para descansar, o trabalho não parava: semear batatas e centeio, tratar do feno e roçar carros de mato, entre outros trabalhos.
Para a Brande de Vale de Poldros iam brandeiros de Riba de Mouro, Tangil (Santa Marinha) e Merufe (Granja), homens e mulheres, mais velhos ou mais novos. Eram todos amigos, quase uma família, nos meses em que a branda durava. Terminados os trabalhos na branda, os brandeiros desciam à freguesia para continuar os trabalhos no lugar.
O espírito de comunidade vivido naquele mês e meio deixava, na branda e na alma os brandeiros, um grande vazio, na hora de ir embora. A vida dura era, fortemente, compensada pelos bons momentos, pela convivência e pelos laços criados entre todos. Para quem não sabia o que era ter férias, a branda, apesar de trabalhosa, representava uma pausa, um “(a) brandar” do ritmo de vida do lavrador: outra casa. Outras pessoas, outras vivências, outras rotinas.
Descubra mais no livro “OS DE LÁ DE RIBA – Os Saberes e o Linguajar de um Povo” (2021), de Aida Barreiros & Maria Alves.